sábado, 25 de abril de 2009

Tesla Brabus


O som ameaçador do escape de um V8 de grande calibre pulsava através do veículo que iríamos testar, e eu podia sentir os pistões trabalharem com o carro sacudindo em ponto-morto. Na Brabus, famosa por seu tratamento radical de motores Mercedes, isso não deveria ser surpresa. Mas não se trata de um Mercedes: ele não tem um V8, pistões ou sequer um motor a combustão. Trata-se do Brabus Tesla, a primeira incursão da empresa no admirável mundo novo da emissão zero... É, algo estranho está acontecendo.
O esportivo baseado no Lotus Elise ainda é a imagem da tecnologia dos carros esportivos verdes. Ele mudou praticamente sozinho a percepção do que é um carro elétrico, que até então era de veículos para deficientes ou carrinhos de golfe, e nos mostrou que podemos nos divertir em quatro rodas sem sufocar a Mãe Terra. Com o equivalente a 248 cv e 38,2 mkgf de torque de seu motor de corrente alternada de 375 volts, o Tesla é rápido mesmo, indo de 0 a 100 km/h em 3,9 segundos, segundo o fabricante. E, sem arrancar o gerador e começar tudo de novo, havia pouco que a Brabus pudesse fazer para incrementar a potência ou a velocidade máxima de 210 km/h.
Mas a velocidade pura nunca foi o problema do Tesla, já que 92% da potência chega às rodas, em comparação com a perda de 80% nos veículos a combustão, devido ao atrito interno e a sistemas auxiliares. O motor elétrico gira a 14 000 rpm e todo o torque está disponível desde a imobilidade, de forma que sua velocidade é mais que suficiente. De qualquer forma, o Tesla tem problemas bem conhecidos para fazer sua transmissão aguentar a força do motor.
Quanto à sensação de velocidade, é uma outra história. Somente quando o carro arrancou em disparada foi possível perceber que ele estava ligado, e o zumbido triste do motor elétrico e o som crescente da resistência ao rolamento são desanimadores.
Mas o pior é que isso é perigoso, já que, conforme relatam vários proprietários de veículos híbridos, sem barulho vindo da área do capô eles já quase atropelaram pedestres ao dirigir no tráfego urbano. Agora, pelo menos, não há desculpa quanto a isso. Porque o carro inteiro literalmente vibra ao mesmo som do V8 de 6,1 litros de 426 cv fabricado pela Brabus, encontrado em toda sua linha, dos SLK aos GL. Subwoofers posicionados estrategicamente sob a parte frontal do carro e quatro alto-falantes em pontos baixos e altos replicam com precisão o som desse V8 e enviam pela carroceria de fibra de carbono vibrações que reproduzem à perfeição as de um motor “de verdade”.
É uma ilusão realizada por homens que normalmente transformam MP3 players em home theaters móveis para clientes ricos. Tendo gravado as notas de cada um dos estágios do curso do acelerador, eles transformaram o Tesla em um monstro impulsionado a gasolina com alguns alto-falantes e sensores ligados ao acelerador. Poderia ser uma abominação, uma trilha sonora estilo videogame incapaz de convencer qualquer pessoa. Em vez disso, é uma obra de arte.
Refrigerante dietSe o V8 não for interessante o suficiente, existe também um programa que simula um motor de carro de F-1, embora felizmente o volume seja mantido dentro dos níveis legais. E ainda há dois sons “espaciais” futurísticos, mais irritantes que qualquer toque de celular que você possa imaginar. Ficamos com o V8, que é uma sinfonia pura. Convenhamos: bom ele já era. Mas agora ele passa a sensação de um esportivo real rasgando a estrada. Seleciono D, enfio o pé no acelerador e o tom rouco e gutural do grande motor Mercedes limpando seus pulmões acrescenta uma dimensão nova à emoção de dirigir.
Ele ainda passa a sensação de um kart, com um câmbio de redução de uma marcha que continua sendo um conceito estranho. Mas com o rugido de um motor “de verdade” o Tesla transmite mais a sensação de algo real para as ruas e menos a de um conceito alienígena. Exceto pelo rápido e selvagem “freiomotor” gerado pelos freios regenerativos, que entram em ação quando se tira o pé do acelerador, ele é tão ágil quanto o Elise. Aceleração visível é um prazer raro, mas em minha primeira passagem voadora pelo Steve, o fotógrafo, vi apenas choque, espanto e uma câmera abandonada pendurada ao seu lado à medida que o Tesla avançava, agachando-se ligeiramente antes de encontrar uma forma de transmitir todo seu torque ao asfalto e disparar pela estrada.
A suspensão ajustável pode baixar o carro até 30 mm sobre aquelas rodas invocadas de 7 x 18 polegadas na dianteira e 8,5 x 19 polegadas na traseira. O lado negativo dessas rodas é que manobrar se torna um pesadelo, já que esse carro de 130 000 euros não tem direção assistida. Em velocidade, no entanto, é de uma precisão milimétrica: o Tesla ataca as curvas e lida com tangências quase tão bem quanto o Elise no qual ele se baseia. Quase, porque, se comparado com o melhor do mundo, não há como esconder os quilinhos extras. A Brabus tentou, usando alumínio forjado para reduzir o peso da suspensão em 30% e até mesmo aplicando um couro 75% mais leve que o de seus Mercedes. Mas, quando se tem um conjunto de baterias de íons-lítio de meia tonelada para um carro cujo peso total é de 1 075 kg, é como pedir um refrigerante diet para acompanhar a feijoada.
Por isso o carro cede nas curvas, abrindo a tangência quando pilotado de forma agressiva, faltando-lhe aquele “estar grudado” total que se consegue com a versão original da Lotus. Ele continua sendo um carro divertido e é uma opção excepcional para o piloto de consciência ambiental, mas tal alerta é necessário. E em termos de frenagem nem isso é suficiente para salvar o carro, que dança de um lado para o outro quando os freios lutam contra a massa bruta.
Pintura de 6 000 eurosEle não é um Lotus. É perda de tempo fingir que é e mesmo a estabilidade adicional do entre-eixos mais longo não consegue mascarar seu peso maior. É um carro divertido, até mesmo o precursor de uma nova espécie, mas ele está à frente do seu tempo, e tanto a Tesla quanto a Brabus mal podem esperar pelas baterias mais leves que certamente surgirão quando houver demanda. O defletor dianteiro de fibra de carbono aparente e os spoilers traseiros não geram qualquer pressão aerodinâmica, porque o carro não é veloz o suficiente para produzi-la, mas eles fazem sua parte no visual – da mesma forma que os faróis diurnos estilo Audi, que dão ao carro aquele toque de veneno em conjunto com a pintura em branco fosco de 6 000 euros.
No interior, a Brabus removeu até o último resquício de Lotus, fazendo com que o Tesla enfim passe a sensação de valer quanto custa também por dentro. Mesmo que tenha de trocar as tomadas de ar de plástico por peças de carbono puro, para dar um ar mais exclusivo. Poderíamos passar sem a iluminação sob o assoalho e nas soleiras da porta, mas são opcionais.
O Tesla é uma grande invenção, mas faltavam o som, a sensação e o toque da paixão de dirigir que ele merecia. O preparador preferido da Mercedes entrou em cena com uma interpretação própria e criou um esportivo elétrico quase perfeito, com o carisma de seus irmãos a gasolina. Ou pelo menos teremos, quando a tecnologia lhe permitir perder uns 230 kg.

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