O mesmo carro, 30 anos depois, faz muito mais com menos, graças a ajuda da tecnologia
Tão certo como afirmar que o carro, na essência, é a mesma máquina inventada no fim do século 19 é dizer que a distância entre um modelo de 30 anos atrás para um modelo atual faz seu descendente parecer personagem de ficção científica. O lançamento do novo VW Golf GTI, apresentado este ano na Europa, proporciona uma boa oportunidade para uma radiografia da evolução da espécie, quando comparado ao fundador da dinastia. Na primeira geração, lançada em 1976, o Golf GTI era considerado um carro inovador. Ele surgiu numa época em que a indústria começava a dar mais atenção ao meio ambiente e trazia um dos primeiros sistemas de injeção de combustível, em substituição ao carburador – o que até então era um dispositivo presente apenas nos modelos mais caros, como Mercedes, BMW e Ferrari. Mas o controle da mistura ar-combustível evoluiu tanto que a queima nas câmaras passou de “mais ou menos completa” a quase total hoje em dia – a ponto de tornar um carro atual quatro vezes mais limpo que um modelo produzido nos anos 70. Linhas de alimentação seladas, catalisadores, dispositivos de recirculação de gases e injeções de combustível eletrônicas, todos recursos criados na década de 70, conseguiram reduzir as emissões de HC e CO em 96% e as de NOx em 76%. Mais tarde, as fábricas passaram a empregar outras tecnologias (já conhecidas), como turbocompressores, comandos de válvulas e coletores de admissão e de escape variáveis, que permitiram controlar ainda mais a mistura e, ao mesmo tempo, aumentar o rendimento dos motores. A potência específica do motor do Golf GTI, por exemplo, passou de 69,3 cv/litro, no modelo da primeira geração, para 105,8 cv/litro, no atual. Nos últimos 33 anos, a eletrônica passou a ser parte integrante e fundamental dos carros, com os computadores monitorando não só o motor mas os diversos sistemas do carro, uma atuação algo semelhante a um sistema neurológico, metaforicamente falando. Os freios ABS, por exemplo, surgiram em 1978 trazendo como benefício a redução das distâncias de parada e, principalmente, a manutenção do controle direcional durante uma frenagem. Como efeito colateral veio o aumento de peso. Maior e com mais conteúdo, o GTI G6 é 509 kg mais pesado que o G1 de 1976. Mas o combate ao sobrepeso é a próxima fronteira a ser conquistada pela indústria, na busca por carros mais econômicos – na linha Mercedes, por exemplo, o atual Classe C é o primeiro sedã da marca que não é mais pesado que seu antecessor, apesar de ter mais conteúdo. Como você pode ver, só mesmo na essência os carros são os mesmos de antigamente.
Emissões O novo GTI anda mais, consome menos e polui menos que seu antepassado. Nos anos 70, quando a primeira geração foi lançada, ainda não se mediam as emissões. As medições para homologação dos carros começaram somente nos anos 90. Mas estima-se que um carro fabricado no fim dos anos 70 polua quatro vezes mais que seu similar atual. O novo GTI já atende a Euro 5, legislação europeia que entra em vigor no fim deste ano.
Motor - Tecnologias como cabeçote multiválvulas, duplo comando variável, turboalimentação e injeção direta de combustível ajudaram a aumentar a potência do GTI (além do deslocamento maior). A potência específica passou de 69,3 cv/l para 105,8 cv/l. G1 X G6 Deslocamento (cm3): 1600 X 2000 Potência/torque (cv/mkgf): 110/13,3 X 210/28,6
Desempenho - O motor, com mais potência e torque, aliado ao câmbio sequencial de seis marchas com dupla embreagem, faz o novo GTI disparar na frente do antigo, equipado com câmbio manual de 5 marchas. G1 X G6 0 a 100 km/h (seg): 8,7 X 6,9 máxima (km/h): 181 X 238
Consumo - Com mais tecnologia embarcada, o novo GTI consegue andar mais e gastar menos, apesar de ser mais pesado: 1 339 kg contra os 830 kg do GTI 1976. G1 x G6 ciclo urbano (km/l): 9,5 X 10 ciclo rodoviário (km/l): 13,5 X 16,9
Tecnologia - A central do novo Golf calcula 8 000 vezes a cada nova explosão os parâmetros de injeção e de ignição. O antigo GTI não tinha sistemas eletronicamente controlados. Sua injeção era mecânica e administrava o combustível de acordo com o volume de ar admitido. G1 x G6 Injeção: mecânica X eletrônica Processador: não possui X 32 bits
Investimento/Rendimento - O novo GTI é mais caro que o antigo. Ele custa 73 965 reais, na Europa. Em 1976, o GTI custava 12 200 reais, o que equivale a 61 920 reais hoje, considerando uma inflação anual de 5,4%. Mas, sem dúvida, o GTI novo remunera melhor o investimento do comprador, se considerarmos o custo por cv. G1 x G6 Custo: R$ 562/cv X R$ 352/cv